DESABAFO COM DEUS NAS IMPRECAÇÕES

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Desabafo é desafogo, respirar livremente, dizer o que se sente, confissão. Assim sendo, neste artigo apresento os benefícios disso através dos Salmos imprecatórios.

Imagem de Vladimir Buynevich por Pixabay 

O Que São Os Salmos Imprecatórios? DESABAFO COM DEUS

Para entendermos bem isto, precisamos trazer à nossa mente o que é uma imprecação

Veja a definição de imprecação dos dicionários.

Os dicionários trazem três definições de imprecação.

1 – Desejo que algo ruim aconteça a alguém; praga.

2 – Cláusulas através da qual, em documentos medievais, era possível lançar anátemas aos que desrespeitavam certos preceitos.

3 – Pedido que se faz a Deus, ou a uma entidade superior, para que uma graça ou algo favorável aconteça a alguém. 

Eu, entretanto, acrescento a esta definição que o pedido pode ser para que algo desfavorável aconteça a alguém, como mais frequentemente acontece.

Então, que são os salmos imprecatórios? São orações suplicando ao Juiz, que neste caso é Deus, que tome providências contra o inimigo opressor. Não é desejo vingança com as próprias mãos. O salmista se subordina à justiça de Deus, a que recorre numa situação de injustiça.

Alguns Salmos Imprecatórios

Quais são os Salmos imprecatórios? Alguns Salmos são cheios de lamentações e imprecações. Por exemplo: 9;10;12;13;14;17;22;25;26;28;31;35;36;38;39;41;42;43;44;49;51;52;53;54;55;56;57 e 58.

O crente no divã de Deus. DESABAFO DAS TENSÕES DA OPRESSÃO.

Então perceba, a imprecação é um dos recursos mais extraordinários que o crente tem para buscar alívio das tensões, dos conflitos, opressões e depressão. Porque através da imprecação o crente se coloca no divã de Deus em busca de solução para os dramas da vida, claro em oração.

Aliás, é através da oração que essa busca é feita: a súplica para que Deus intervenha com providências, livramentos e soluções de conflitos, pois na imprecação o crente derrama sua alma perante Deus como vemos no Salmo 142:

Com a minha voz clamo ao Senhor; com a minha voz ao Senhor suplico. Derramo perante ele a minha queixa; diante dele exponho a minha tribulação. Quando dentro de mim esmorece o meu espírito, então tu conheces a minha vereda; no caminho em que eu ando ocultaram-me um laço. Olha para a minha mão direita, e vê, pois não há quem me conheça; refúgio me faltou; ninguém se interessa por mim. A ti, ó Senhor, clamei; eu disse: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes. Atende ao meu clamor, porque estou muito abatido; livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu. Tira-me da prisão, para que eu louve o teu nome; os justos me rodeiarão, pois me farás muito bem” (Salmos 142:1-7).

A Imprecação é a Invocação do Castigo de Deus Sobre Os Ímpios.

Entretanto, cabe-nos uma pergunta: É certo e é correto dentro da visão do Novo Testamento, dos ensinos de Cristo pedirmos o castigo dos ímpios? Qual a relação disto com aquela parte do orar pelos inimigos e pelos que nos perseguem? Acontece que o Novo Testamento tem também suas imprecações. Veja alguns exemplos.

Imprecações no NT: DESABAFO COM DEUS EM BUSCA DE LIVRAMAENATO

Por exemplo, Mt 23.13-39 Jesus proferiu os ais contra os escribas e fariseus. São imprecações que visam contemplar a hipocrisia com seu devido destino, que é o castigo. Ao mesmo tempo, um desabafo contra os opressões.

Isto porque muitas vezes e situações que nem mesmo Deus encontra outro remédio para tratar a dureza de coração do homem senão o castigo. Veja por exemplo 2 Cro  36.16:

Eles, porém, zombavam dos mensageiros de Deus, desprezando as suas palavras e mofando dos seus profetas, até que o furor do Senhor subiu tanto contra o seu povo, que mais nenhum remédio houve. Por isso fez vir sobre eles o rei dos caldeus, o qual matou os seus mancebos à espada, na casa do seu santuário, e não teve piedade nem dos mancebos, nem das donzelas, nem dos velhos nem dos decrépitos; entregou-lhos todos nas mãos” (2 Crônicas 36:16,17).

Então concluímos que às vezes a impiedade é tão grande que o castigo é a única correção. 

É certo, entretanto, que não devemos ter pressa para proferir juízos e castigos. A igreja de Cristo recebeu poder para perdoar pecados e para reter o perdão (Jo 20.23). Mas o ensino de Cristo é que busquemos a paz com todos e nisto devemos nos esforçar ao máximo ( Rm 12.18; Hb 12.14).

Por isso, não devemos ter pressa para condenar e pedir que desça o fogo sobre os ímpios (Lc 9.54,55). Lembremo-nos de que um dia nós também vivemos em ofensas a Deus. O nosso principal ministério é o da reconciliação (2 Co 5.18).

Imprecação como recurso de oração

Porém, estou levantando aqui a imprecação como recurso da oração, isto é, dentre do diálogo com Deus, o supremo Juiz. Isto é correto em toda a Bíblia e dentro dos ensinos de Cristo. 

Veja, não é terrorismo. Também não é vingança com as próprias mãos. É impetração de recurso junto ao supremo Juiz para que ele freie o opressor ou as ações de nosso inimigo. 

E ainda mais importante é que esta impetração de recursos é feita em nome de Jesus que sofreu as nossas dores e também as de nossos inimigos. Isto significa que nele está o veredito justo tanto para nossos amigos físicos e espirituais quanto para nós também.

A igreja primitiva pediu providências divinas contra os perseguidores em Atos 4:29-31:

Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; Enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus. E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.”

Em Apocalipse 6.9-11, a igreja redimida é já na glória eterna (leve em consideração o simbolismo do livro) pede justiça contra os perseguidores na terra. 

Então, a oração imprecatória é um recurso contra tudo que nos oprime. Porém, ao fazermos imprecações devemos ter o mesmo espírito dos santos que aprenderam com Jesus e com os profetas bíblicos.

Observe os seguintes exemplos: 

Mas quando o arcanjo Miguel, discutindo com o Diabo, disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: O Senhor te repreenda” (Judas 1:9). 

Veja que o arcanjo Miguel teve cuidado de não proferir condenação contra o diabo, como muitas pessoas fazem hoje, xingam-no, ofendem-no. Mas note: Se xingar é desobediência a Deus, quem assim o faz está agradando ao diabo. Este ri dos que assim procedem, pois em desobediência a Deus o crente perde a batalha.

Veja outro exemplo semelhante:

Mas o anjo do Senhor disse a Satanás: Que o Senhor te repreenda, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreenda! Não é este um tição tirado do fogo?” (Zacarias 3:2).

Então é assim: Se atendermos a iniquidade em nosso coração, o Senhor não nos ouvirá (Sl 66.18).

Use a imprecação não para falar ao inimigo e afrontá-lo. Use para desabafar, desafogar-se, para lançar sobre Deus toda sua ansiedade (1 Pe 5.7). O divã de Deus é de graça e de onde flui a graça; o remédio para sua alma. O melhor desabafo é com Deus em nome de Jesus.

Veja também o Silêncio de Deus À Oração do Angustiado

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