Carta À Igreja de Pérgamo Estudo do Apocalipse

Tempo de leitura: 9 minutos

Carta À Igreja de Pérgamo. A terceira carta às Igrejas da Ásia no livro de Apocalipse (Ap 2.12-17). Quais os desafios da igreja naquela cidade? Quais as ordens do Senhor Jesus endereçada ao seu Corpo? Imagem de Bruno /Germany por Pixabay 

A Cidade de Pérgamo

Pérgamo quer dizer “cidadela”, “burgo”. Era uma cidade grega muito importante da Mísia, e se situava às margens do rio Caíco, distante 20 milhas do mar em 214 a. C. A cidade possuía uma importante biblioteca, que só perdia para a de Alexandria, no Egito e à qual foi anexada mais tarde, tornando esta maior ainda.

Os romanos a dominou por volta da ao 133 a.C. e Pérgamo passou a ser capital da província romana da Ásia.

Ali havia um grande altar dedicado a Zeus, outro dedicado a Atene, e também a Augusto. Este construído pelos romanos.

Entretanto, fora da cidade existia um altar mais famoso, o dedicado a Euscalápio, deus da medicina, procurado pelas multidões em busca de cura.

No entanto, o contexto mais ameaçador para a Igreja em Pérgamo é que ali foi erigido um santuário para implantação do culto ao imperador romano. Todos teriam que adorar ao imperador, o que a igreja jamais aceitaria.

Pérgamo é hoje conhecida como Bergama no Turquia.

Carta À Igreja de Pérgamo E As Outras Cartas

A Carta de Jesus À Igreja de Pérgamo tem as mesmas características das outras duas anteriores, de Éfeso e de Esmirna. Ela é, portanto, a terceira carta.

O conteúdo da segue, então, de endereçamento ao pastor ou anjo da igreja; de menção de um algum atributo visto na visão de João em 1.9-20, nesta, Jesus “tem a espada afiada de dois gumes”; da declaração de conhecimento que o Senhor tinha da igreja (Ap 2.2, 9, 13, 19; 3.1, 8, 15); das virtudes e/ou descuidos da igreja; de ordens para correção e/ou elogios; de apelo final chamando ao arrependimento e promessa. Falarei sobre cada um desses pontos a seguir.

Carta À Igreja de Pérgamo Foi Endereçada ao Pastor em Primeiro Lugar

A Carta de Jesus À Igreja de Pérgamo foi endereçada ao pastor da igreja. Isto porque a função pastoral é responsável pela instrução e orientação geral da igreja. O pastor deve zelar pelas doutrinas ensinadas pelo Senhor.

Eu acredito que os Apóstolos foram os primeiros transmissões e guardiães da doutrina de Cristo. Estes treinaram pastores para serem guardiões posteriores dessa doutrina junto à igreja (2 Tm 2.2; Ef 4.11,12).

Então, Jesus se dirige ao responsável maior, ao pastor. Dele será cobrada responsabilidade no ensino, exortação e disciplina da igreja. Desta forma, o pastor é uma espécie de parta voz de Jesus, como era o profeta. Assim, ministério pastoral tem também uma função profética.

Pastor, Um Profeta

Mais entenda uma coisa muito importante, o pastor não é um profeta do tipo daqueles que receberam diretamente a Palavra de Deus. Ou seja, não receberam a Palavra por inspiração do Espírito Santo. Os pastores recebem a Palavra por iluminação do Espirito Santo.

Qual é a diferença? Bem, os profetas bíblicos receberam de Deus e transmitiram aos homens. Os Apóstolos receberam de Cristo e transmitiram aos pastores e demais cristãos. Os pastores recebem da Bíblia e, iluminados pelo Espírito Santo transmitem à igreja.

É bom esse entendimento porque vejo muitos pastores falando como se tivessem a autoridade daqueles primeiros profetas e apóstolos. Veja aqui em Apocalipse que Jesus não fala diretamente para os pastores, mas fala para seu Apóstolo João, e este transmite aos pastores. Já os pastores transmitem às igrejas.

Os Atributos de Cristo Mencionados na Carta À Igreja de Pérgamo

São dois atributos mencionados nesta carta: a espada afiada de dois gumes e o conhecimento.

A espada afiada de dois gumes.

A espada afiada de dois gumes é uma metáfora da própria palavra de Deus (Hb 4.12). Assim como a espada afiada de dois gumes, isto é, que corta dos dois lados e tem poder de penetração, a palavra de Deus tem poder semelhante, porém, ainda mais cortante e penetrante.

Ouço sempre falar dessa figura da palavra como poder que ferirá as nações. Porém, o objetivo principal de Deus é chamar ao arrependimento (v.16).

Antes de punir, Deus quer salvar. Para isso, o pastor ou mensageiro da parte de Deus deve pregar unicamente a Palavra. A Bíblia é Palavra de Deus.

Veja as virtudes da Bíblia:

  • A Bíblia é a palavra de Deus que não volta vazia, mas cumpre o que apraz ao Senhor (Is 55.11).
  • A Bíblia deve ser a única a ser pregada (Is 8.20; At 16.32; 2 Tm 4.2).
  • A Bíblia é inspirada por Deus para benefício do homem (2 Tn 3.16; 1 Pd 1.20,21).

O Conhecimento do Senhor

O Segundo atributo mencionado é a onisciência: “Conheço o lugar...” (v.13). Este atributo revela Jesus como Deus, pois só Deus é onisciente, isto é, conhecedor de todas as coisas. Não há nada oculto, não há nada que Deus não entenda ou não saiba (Sl 139; Rm 11.33-36). Jesus possui tal conhecimento.

Pastor e igreja precisam ter consciência de que são conhecidos pelo Senhor nos mínimos detalhes. Nada a respeito deles lhe é oculto.

As virtudes e/ou descuidos da igreja

A igreja de Pérgamo era virtuosa. Jesus diz conhecer o lugar onde estava essa igreja. Ali estava o trono de Satanás. Como dito acima, Jesus tem conhecimento completo e perfeito do mundo físico e espiritual. Aquela cidade era fortemente pagã e idólatra. Para piorar o império romano instituiu no ano 29 a.C.  o culto ao imperador.

Então, Satanás tinha grande influencia sobre Pérgamo. Tal influencia é enfatizada, pois este fato foi mencionado duas vezes num único versículo (13).

Não obstante o domínio satânico sobre a cidade, a Igreja conservava sua fidelidade ao Senhor. Era desafiador ser cristão em Pérgamo. O Senhor reconhece a firmeza da igreja e de seu pastor.

Tal era a firmeza que Antipas, só conhecido aqui, recebeu menção honrosa do Senhor por sua morte fiel. Ele é chamado por Jesus de “fiel testemunha”. E parece que não era o único.

Porém, a igreja recebeu crítica por descuidar-se do zelo doutrinário, pois sustentava alguns que seguiam a doutrina de Balaão.

Balaão foi uma espécie de profeta contratado por Balaque, rei moabita, para amaldiçoar a Israel (Nm 22-25). Como não foi permitido por Deus que amaldiçoar, como última cartada ensinou a Balaque como perverter os filhos de Israel (Nm 31.16 com 25.1-3).

Balaão ensinara a Balaque infiltrar mulheres moabitas no meio do povo de Israel para perverter-lhes os caminhos diante de Deus com o culto a Baal-Peor. Baal era o deus da fertilidade em geral: plantas, animais e homens. Seu culto envolvia práticas sexuais e, com isso, à idolatria.

Havia na Igreja de Pérgamo um grupo que ensinava perversão semelhante à de Balaão. As práticas dessa doutrina envolvia comida sacrificada aos ídolos e imoralidades sexuais. Isto era tolerado pela Igreja. Jesus censura tal tolerância (v. 14).

Este grupo se chamava nicolaítas, talvez porque seu fundador se chamasse Nicolou. Nada se sabe sobre tal grupo a não o que é mencionado aqui e em 2.6.

Jesus não permite doutrina falsa em sua igreja. Ele chama ao arrependimento, e à conversão à sã doutrina, e ameaça com juízo (v.16).

Carta À Igreja de Pérgamo É O Chamado para Correção e Elogios

O chamado ao arrependimento é um imperativo no verso 16. É uma ordem. Manda quem pode, obedece quem em juízo. Desobedecer a Jesus é insanidade mental; é destinar-se ao inferno.

Caso não haja arrependimento, Jesus promete vir com juízo. Ele diz: “venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca”.

Veja que o instrumento para a peleja é a palavra, “a espada da minha boca”. A palavra viva e eficaz. A palavra criadora (Jo 1.1-3) também será instrumento de juízo.

Porém, acentuo que Jesus não é vingativo. Antes de sentar-se no trono para julgar, Ele está chamando ao arrependimento.

Apelo final e promessa (v. 17)

O verso 17 contém um apelo e três promessas.

O apelo final característico de cada carta continua chamando ao arrependimento: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Notem que igreja está no plural. Isto quer dizer que todas as igrejas, em todos os lugares e em qualquer tempo devem atender com urgência ao chamado de Deus. Isto nos inclui nesta responsabilidade.

Notem também, que a carta é de Jesus, mas o Espírito Santo também fala. Ele é o inspirador das Escrituras como já mencionei acima.

As promessas são para o vencedor. Observe que não é prometido nada ao perdedor, senão punição, como na parábola dos talentos (Mt 25.14-30).

As promessas são três: comer do maná escondido, receber uma pedrinha branca, e ganhar um nome novo e secreto escrito na pedrinha.

Estas promessas usam símbolos que representam provisão eterna, bem como acesso nos céu. Lá nunca mais teremos fome ou sede (Ap 7.16). A pedrinha branca com o novo nome escrito diz respeito ao acesso e à nova identidade em Cristo. O nome de uma pessoa na Bíblia, em geral, diz respeito ao caráter e à identidade espiritual da pessoa. Por exemplo, Jesus quer dizer aquele que salva o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21).

 Conclusão

Vimos que Jesus lá do céu continua pastoreando sua igreja. Ele anda no meio do seu povo, conhece suas boas e más obras, chama ao arrependimento e faz promessas.

A Igreja está num mundo que jaz no maligno (1 Jo 5.19).Mas não está só. Estamos caminhando no vale da sombra da morte (Sl 23), mas o nosso Pastor está nos guiando para o aprisco celestial.

Não podemos nos assustar nem nos desesperar. Igualmente, Jesus não admite frouxidão doutrinária. Temos de continuar vigilantes para recebermos as promessas.

A igreja de Pérgamo vivia num meio dominado por Satanás, porém recebeu elogios do Senhor. E nós? Receberíamos tais elogios?

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.