A LIÇÃO DO ADMINISTRADOR DESONESTO

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A Lição do Administrador Desonesto da parábola de Jesus no Evangelho de Lucas 16.1-13 é controversa. Jesus elogiou a atitude do desonesto e criticou seus discípulos? Como entender isso?

QUAL A LIÇÃO DO ADMINISTRADOR DESONESTO?

Imagem de Amalil Wahid por Pixabay

Como entender esta parábola? Como entender que o senhor tenha elogiado seu mordomo infiel? E mais, há uma critica aos discípulos dizendo que os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz?

Então, parece que não só o desonesto é tomado como exemplo, mas também, que os discípulos são exortados a seguir o exemplo daquele.

Prosseguindo, precisamos entender que o ensino vem em forma de parábola. Parábola (methal = parabole – grego) tem o sentido de enigmas ou quebra-cabeças.

Conforme o Dicionári J. D. Davis, “parábola é método empregado no discurso por meio do qual as verdades morais e religiosas se ilustram pela analogia com fatos da vida comum.

Além disso, há vários tipos de parábolas. Não vou abordá-los aqui. Basta-nos, apenas, saber que A Parábola do Mordomo Infiel é do tipo história da vida real.

Então, vamos recapitular a história dentro de seu contexto.

Jesus contou a parábola aos seus discípulos. Então, os discípulos são o auditório, os ouvintes (v.1).

Porém, o contexto está na sequencia das parábolas do capítulo 15, cujo auditório era formado pelos publicanos e pecadores, escribas e fariseus e, não devemos esquecer que os discípulos também estavam presentes ouvindo tudo.

As parábolas do capítulo 15 foram contadas em resposta aos escribas e fariseus, porque eles criticaram a Jesus por receber pecadores. Aqueles se consideram santos e, para eles, os santos não se misturavam com pecadores.

Tais parábolas foram contadas para ensinar que Deus não só recebe pecadores, mas que também sai a buscá-los para si, tal como pastor saiu a buscar a ovelha perdida, a mulher buscou sua dracma perdida e o pai saiu ao encontro do filho que volta arrependido. A missão de Jesus ficou clara por ocasião da crítica na casa de Zaquel (Lc 19.10): “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.”

Então, temos de perguntar: Por que Jesus contou a parábola do administrar infiel aos seus discípulos? E, qual é o real ensino aplicado da parábola? Os discípulos precisavam de uma lição de honestidade? E que lição eles poderiam aprender do administrador desonesto? Afinal, eles não deveriam ser administradores honestos?

Assim, o que sabemos sobre os discípulos que poderiam levá-los a precisar de tal lição?

Para começo de conversa, como na parábola do filho pródigo, filhos que foram embora e esbanjaram tudo, temos dificuldades de aceitar de volta. Mesmo para os discípulos isso era muito difícil. Eles também aprenderam essa lição aplicada aos fariseus e escribas.

Notem que o valor financeiro está presente nessas histórias. A ovelha vale dinheiro, a dracma perdida era dinheiro, o filho pródigo esbanjou dinheiro.

No grupo dos discípulos estava Pedro, que tinha uma espada, e mesmo depois de tantas lições de Jesus, ainda tinha dificuldades de aceitar um estrangeiro como Cornélio, por exemplo (Jo 18.10; At 10 e 11). Foi preciso uma visão para convencê-lo.

Estava também Judas Iscariótes, um ladrão e hipócrita (Jo 12.4-6), cujo fim foi suicídio (Mt 27.5).

Dentre eles, tinha Tiago e João querendo grandezas políticas e não só eles, mas todos (Mc 10.37,41).

Entretanto, pelo bojo da Parábola do Administrador Infiel parece que eles estavam indo no caminho certo, isto é, cada um tentando se dá bem através do jeitinho humano.

Então, o ensino da parábola parece igual ao estilo de vida deles, mas na verdade é diferente. Só precisamos entendê-la corretamente.

EXPLORANDO A LIÇÃO DO ADMINISTRADOR DESONESTO

É uma história dramática. Vamos, então, ver parte por parte, ato a ato drama.

1º Ato. O Senhor Recebe Informação de que o seu mordomo é infiel, e anuncia a demissão dele.

Lucas 16:2,3: E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha.

Perceba, então, que há reprovação do ato ilícito do mordomo infiel. O infiel terá de prestar contas e ser demitido. É certo, então, que temos de atentar para o dia da prestação de contas, para o dia do juízo.

Assim, o administrador infiel se vê numa situação difícil. Por isso, busca alguma solução para poder se safar quando perder o cargo, no dia em que for julgado por seu senhor.

2º Ato. O Administrador Infiel se prepara para evitar cair na ruína total iminente.

Lucas 16:4-7: Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinquenta. Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta.

Vendo que sua ruina estava próxima, O Administrador Infiel toma uma decisão de corromper os devedores do seu senhor fraudando resultados.

A intenção era que esses que foram corrompidos, e aceitaram a fraude o recebesse em suas casas quando perdessem o cargo. Assim, ele estaria seguro.

Bem, esta parece uma história de políticos brasileiros corruptos, que se associam no crime, ao ilícito, formando uma rede de corrupção coesa, blindada contra as penas da lei.

Então, podemos notar a astúcia, a esperteza do administrador infiel para se proteger nos dias maus em que seria demitido. A preocupação com a ruína iminente o levou a tomar medidas protetoras.

Agora vem o auge com o terceiro ato.

3º Ato. O Senhor do mordomo infiel o elogia e Jesus aplica isso aos seus discípulos.

Lucas 16:8: E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz.

Quem louva o injusto administrador? O senhor dele, não por ser desonesto, mas porque percebeu a esperteza dele em tentar se proteger dos dias maus prestes a chegar.

Agora vem a maior surpresa. Os discípulos esperavam a reprovação do mordomo infiel par parte de Jesus. Ao invés disso, Jesus toma o lado positivo da história: a prudência e astúcia do mordomo em se preservar quando perdesse o cargo.

Com isso, Jesus critica seus discípulos, e os exorta a tomar o injusto gestor como exemplo, não na desonestidade, mas na preocupação e diligência em se preparar para dia da prestação de contas.

Mas qual é o ponto positivo que deve ser o exemplo para os discípulos?

Os filhos deste mundo em trevas são mais prudentes ao tentar escapar da ruína iminente com respeito aos males terrenos, do que os filhos da luz, com respeito aos males eternos.

Desdobramentos dos Ensinos e Aplicações A LIÇÃO DO ADMINISTRADOR DESONESTO

A parte seguinte ainda está dentro do contexto da Parábola do Administrador Infiel. Devemos atentar para estes ensinos.

Lucas 16:9-13: E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.
Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?
E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?
Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.

Se as lições da parábola se encerrassem no versículo 9, então teríamos dificuldades. E este é o erro de muitos “cristãos”. Param nesse versículo isolado e tratam de armar suas falcatruas para se dar bem neste mundo e se justificam citando tal texto achando que a Bíblia os apoia.

Mas as lições prosseguem:

– Vocês devem usar das relações deste mundo para se proteger nos dias maus iminentes no campo espiritual no dia da prestação de contas, para que possam entrar no céu.

Certamente que não poderiam fazer isso subornando, mas usando dos recursos a que têm acesso para conquistar benefícios eternos.

Isto é, cultivar no mundo de injustiça atos de justiça que possam valer no dia do juízo de Deus. Isso significa ajuntar tesouros nos céus, segundo a ética dos céus enquanto militamos na terra (Mt 6.19).

Como se faz isso? Veja alguns ensino: Vai, vende tudo quanto tens e dá aos pobres e depois segue a Jesus (Mc 10.21); trabalhe para que tenha para si, e para ajudar a quem precisa (Ef 4,28).

2 – A injustiça é condenada e o infiel também. “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.” “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor” (Salmos 34:15).

Agora a aplicação: Se vocês forem infiéis nas riquezas injustas, podemos acrescentar, como foi o administrador infiel, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no bem alheio vocês não foram fiéis, quem vos dará o que é vosso? Estas são perguntas cujas respostas são negativas. Então, na injustiça serão condenados.

3 – A conclusão é que não se pode servir a dois senhores. Os discípulos deveriam ter Jesus como único Senhor e não o dinheiro ou poder político ou quaisquer coisas deste mundo. Assim, devemos ser prudentes e diligentes em servir ao nosso Senhor, sabendo que teremos de prestar contas em breve. Então, qual será nossa sustentação no dia do juízo? A quem tivemos como senhor neste mundo?

Da lição do Mordomo Infiel fiquemos com sua preocupação diligente em nos preparar para o encontro com Deus.

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