PACTO DE FIDELIDADE ENTRE RAAB E OS ESPIÕES

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O PACTO DE FIDELIDADE ENTRE RAAB E OS ESPIÕES foi um acordo que marcou a história de Israel, mas muito mais, a história de salvação de uma prostituta crente Josué 2.1-24.

Em Josué 2.1-24 registra que Raab, uma prostituta que morava no muro da cidade de Jericó recebeu e escondeu os espiões israelitas. Ela, assim como todo o povo de Jericó, ouviu que os israelitas estavam vindo e que Iahweh Deus era com eles. Então, temeram, na verdade, entraram em pânico. Por isso, Raab os recebeu, os escondeu, e procurou fazer um pacto ou acordo com eles para salvar sua vida e de sua família.

PACTO DE FIDELIDADE ENTRE RAAB E OS ESPIÕES SOB SUSPEITA

Nos versos de 1-7 os espiões chegam a Jerico e Raab os recebe. Entre os versos 8 a 20, Raab revela que ela e todo seu povo estavam em pânico com a chegada dos israelitas. Então, busca um acordo para se proteger a si mesma e à sua família. Nos versos 22 a 24 os espias voltaram e prestaram relatório de toda missão a Josué.

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Entretanto, um fato antiético marcou esse pacto entre Raab e os espiões: Ela mentiu para salvar sua vida e família.

O rei de Jericó teve informação de que espiões israelitas tinham entrada na cidade e estavam na casa de Raab. Por isso, ele mandou soldados à casa de Raab procurando os espias, mas ela os escondeu e disse que eles tinham estado lá, que não sabia que eram israelitas, e eles já tinham ido embora. Até os aconselhou: “Persegui-os rapidamente e os alcançareis” (v.5). Mas ela, na verdade, os tinha escondido no terraço.

Então, temos um caso de salvação através de mentira na Bíblia, pois foi com uma informação falsa ao seu rei que Raab arrancou um acordo com os israelitas. E isto é contado não só em Josué, mas em toda a Bíblia como um ato virtuoso de Raab (Hb 11.31; Mt 1.5; Tg 2.25).

Por isso, muitos apontam este fato como uma contradição bíblica com o texto de Levítico 19.11, que diz: “Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo”.

TRÊS CONSIDERAÇÕES SOBRE O PACTO DE FIDELIDADE ENTRE RAAB E OS ESPIÕES

Primeiramente, é fato que Deus considera todos os seres humanos pecadores (Rm 3.23). Mesmo os atos humanos mais sinceros podem ser contaminado pelo pecado. Então, se Deus quiser punir a todos com a morte, Ele tem todo direito, pois todos somos transgressores.

Porém, Deus estende a todos a possibilidade de perdão, mediante sua graça revelada em Jesus, pois Ele não deseja a morte do ímpio, mas que este se converta (Is 55.7; Ez 33.11; 1 Tm 2.5,6).

Neste ponto alguém poderia dizer que a graça em Jesus ainda não existia, mas sim, a Lei de Moisés.

Certo, não existia para nós, mas sim, para Deus. No seu propósito eterno todas as coisas sempre existiram (Ef 1.4).

Em segundo lugar, não é certo que alguma forma de perdão não existisse para os transgressores antes da manifestação da graça, pois o temor do Senhor sempre foi um princípio pelo qual Deus tratou com certa brandura os erros humanos (Pv. 2.5; 9.10; 14.27; 16.6; Jr 2.19).

Além do temor, o arrependimento e confissão dos pecados sempre beneficiaram até mesmo os estrangeiros, como por exemplo, Abimeleque, rei de Gerar.

Ele tomou Sara pensando que fosse irmã de Abraão, mas antes de ter relações com ela, Deus o advertiu em sonhos. Mediante aceitação do conselho divino, ele e seu povo foi poupado (Gn 20).

Note que este fato ocorreu antes da Lei. Então, a fé em Deus, a humildade revelada no temor do Senhor, e a confissão de pecados sempre foram princípios estabelecidos por Deus para perdoar os homens.

Quanto a isso, tendo como critério que a Bíblia interpreta a si mesma, os versos já citados (Hb 11.31; Mt 1.5; Tg 2.25) revelam que Raab agiu de acordo com os princípios pelos quais ela foi verdadeiramente aprovada – a fé em Deus, como o único Deus (Dt 4.39).

Raabe demonstrou tais princípios e agiu não para enganar ninguém, mas por temor do Senhor e para poupar sua vida e família (Js 2.11,12).

Em terceiro lugar, Raab não era israelita, portanto, não estava sob regime da Lei. Certamente nem sabia que mentir era pecado. Assim, não poderia ser julgada nos termos da Lei Mosaica.

Além do mais, há peso diferente entre o mentir aos homens e o mentir a Deus (At 5.1-10). Mentir aos homens equivale a mentir para a mentira, porque todo homem é mentira; enquanto mentir a Deus é mentir para a verdade (Nm 23.19; Sl 116.11).

Então, numa situação de pânico, Raab tinha de tomar uma decisão crucial e, por isso, ela mentiu aos homens, mas conservou o temor do Senhor (Js 2.8-13). Ela mentiu aos que queriam matar e destruir o povo eleito de Deus.

Então, Deus a poupou não por mentir, mas por temê-lo, e procurar, mesmo com sua imperfeição, proteger o povo de Deus.

Deus já havia decidido abençoar e defender Israel como seu povo (Gn. 12.3). Raab com recursos humanos e, portanto, imperfeitos, identificou-se com a obra de Deus. Caso dissesse aos soldados do rei de Jericó que os homens estavam em sua casa, ela teria se juntado a eles na prática da perversidade, e estaria contra Deus.

Portanto, Raab não estava traindo nenhum acordo ou pacto com Deus. Ela não tinha nenhum acordo com Deus ainda. Inteligentemente buscou um concerto com Deus, e salvar-se a si mesma e à sua família.

Então, com os recursos da injustiça (mentir aos soldados de seu país) procurou se conciliar com a justiça de Deus (Lc 16.9).

Para fim de discussão, os atos salvíficos de Deus são unilaterais. Isto é, depende exclusivamente dele. Não está baseado em nenhum ato de verdade ou de mentira dos homens, mas nos seus atributos e nos seus próprios atos. Ele decidiu poupar Raab e ponto final (Nm 25.12; Dt 7.7,8). Não é sem critério, mas “compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (Romanos 9:18).

ACORDOS, PACTOS OU JURAMENTO

Os acordos tinham um peso muito importante, solene. Deus velava pelos acordos entre os homens. Funcionava como um juramento perante Deus. Então, tinham que ser cumpridos.

Por exemplo, além de Raab os gibeonitas buscaram um acordo com Israel. De forma astuta, enganaram a Josué e os líderes do povo, e conseguiram um acordo que os livrou da morte.

Quando Israel descobriu que foi enganado não podia fazer mais nada porque estava preso pelo juramento ou acordo, mesmo o tendo feito sem consultar ao Senhor (Js 2.12; 9).

A fé de Raab salvou a ela e toda sua família. Ela era uma prostituta crente, mas nunca foi crente prostituta. Passou a ser exemplo de fé e temor do Senhor dentro das Escrituras.

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